Assediando sua sutilezaCaríssimo, você que se diz despido de qualquer preconceito, mas tem impregnado na mente o odor sutil da casa grande…
Depois que quebrei as correntes, mantendo o fluxo como uma correnteza, mas agora, uma corrente que arrasta e não aprisiona, primeiro questionei e fui culpado por apontar o erro. Ao apontar o erro, não obtive desculpas, só indagações.
E por que calar minha indignação quando o que sai da minha voz é o tom de pele preta, diminuto numa escala difusa?
O piór de estar na guerra é justo o momento em que você descobre que o sentimento é um cristal de açúcar num formigueiro, mas a razão é amarga, e a ninguém convém tragar.
Mais escura que o brilho da minha alma é a densidade da minha dor. Mais límpido que meu sorriso é o latente “por quê” sem resposta.
Bom… os que antes me faziam de tapete agora tropeçam no incômodo do meu ego ancestral.
Se enganam ao jogar desculpas como pó secante.
A emoção é autêntica, as imagens ainda são vívidas e o tom é ao mesmo tempo lírico e combativo. O verso? Esse eu extraio do desdém do seu olhar, que outrora foi sutil, mas hoje gargalha na minha face antes de me intitular destinatário da sua bala perdida.
Meu lombo recita, em letras garrafais de escrita Braille, o estalar do chicote e o ranger das correntes que ainda escravizam minha existência.
Há um “que” repetido, eu sei, e sei que pra você não é coerente “corrente” estar no singular, mas minha ideologia não favorece ao seu engenho de moer cérebros.
Talvez o que você queira seja o plural: “as correntes”, no popular, servidão total.
Coisa identitária, o que você marca como vitimismo. Mas talvez o orgulho que você assinou com ferro quente exalasse menos ao longo da história se o tempo me clareasse. Bom… não posso negar que você até finge em tentar, e o fizera assim:
Vergonhosamente EU (digo, você que roubou para si o protagonismo do poder mundial).
O medo bate à sua porta e o que te assusta é saber que, com consciência, estamos fazendo o contrário do que você fez ao arrombar minha casa, profanar meu santuário e estabelecer o mandato infindo com pólvora e açoite.
Hahaha. Hoje, o que você escuta nas comunidades e abomina com repressão é o pancadão, batida cardíaca que pulsa o lamento da senzala moderna. O som da conta chegando, da história batendo à porta para cobrar reparação.
Toc toc… DBara Arruda
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